Desapego.

(...) Em menos de dez minutos vocĂȘ se lembra de tudo. VocĂȘ se lembra o motivo ou os motivos que fizeram tudo se perder. E vocĂȘ se lembra que nĂŁo Ă© culpado e que, talvez, os outros tambĂ©m nĂŁo sejam. Assim Ă© a vida. VocĂȘ se lembra que o grande amor da sua vida. O maio. Aquele que vocĂȘ nunca superou. Ă© o tipo de pessoa que faz questĂŁo de ficar a noite inteira longe de vocĂȘ sĂł porque acha charmoso ficar longe de vocĂȘ e nĂŁo porque queira ficar longe de vocĂȘ. Ele prefere ser descolado do que humano. E vocĂȘ lembra daquela sensação que sentia ao lado dele. De solidĂŁo profunda. E vocĂȘ descobre que ele acha que saudade ou vontade de fazer carinho se resume a uma passada de mĂŁo na sua bunda, ou uma apertada no seu peito. E vocĂȘ percebe que a vida dele, que vocĂȘ tanto colocou no pedestal, pode se um pouco boba, ou atĂ© mesmo triste. Com carros que correm para esbanjar uma grana gasta com coisas sem amor, bilhetes de reclamaçÔes de barulho, filmes onde cunhadas se comem e amigos que ligam na madrugada achando que puteiro pode ser uma opção legal. Em minutos vocĂȘ entende como ninguĂ©m oque te trouxe atĂ© aqui, tĂŁo longe dele (...) Me senti visitando meu prĂłprio cemitĂ©rio. Com amigos e amores mortos e enterrados. Pessoas que agente desenterra de vez em quando pra ter certeza que fizemos a melhor escolha enterrando elas. Pessoas que agente lamenta a distĂąncia, afinal jĂĄ foram tĂŁo importantes e ... serĂĄ que nĂŁo da pra recomeçar tudo de novo e tentar acertar dessa vez? Pessoas que a agente tenta se agarrar para nĂŁo sentir que a vida caminha para frente, e isso significa, ainda que muito filosoficamente, que um dia vamos morrer. Nossos amigos vĂŁo ficando pra trĂĄs, nossos amores, nossos empregos, casas ... um dia seremos nĂłs a desaparecer. Mas a lição que eu aprendi sĂĄbado Ă© que nĂŁo vale a pena consertar um carro pela dĂ©cima vez. Ă© mais fĂĄcil comprar um novo e fim de papo. Afinal, eu bem que tentei consertar meu relacionamento com as pessoas e sĂł ganhei mais e mais poses e menos e menos verdades. Ainda que doa deixar pessoas morrerem, se agarrar a elas Ă© viver mal assombrado. 

ComentĂĄrios

Lari disse…
Oi, encontrei teu perfil na comunidade do perfil do Caio F. Abreu e assim, achei teu blog. Adorei e tĂŽ seguindo..
beijĂŁo

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